Ela rebusca escritos antigos, e vai lendo o que já escreveu em tempos que ainda era feliz e outros nem tanto. Pelo meio vai encontrando textos, cartas, uns com mais sentimento, outros simples escritos de pensamentos banais. Porém um poema desperta-lhe a atenção, e ao ler recorda cada segundo que viveu ao escrevê-lo, recorda cada palavra, cada sentimento que empregou para o escrever. Pegou no poema e resolveu publicar, no local onde costuma deixar os seus escritos mais sentidos, os poemas. Porém a nostalgia deu lugar, à angústia, à solidão que a sua alma teima em não admitir sentir. Quer poder esquecer, mas por vezes a vida teima em não deixar, há sempre qualquer coisa que faz despertar o que já deveria estar adormecido. Não se pode fechar em casa, e nem pode tapar os olhos ou passar a ser surda. Ora são situações que a fazem voltar a lembrar-se, ora são nomes anunciados nas televisões e toda a gente teima em se chamar o mesmo, pensa ela, ora é o modelo do carro com que se cruza, que é modelo raro, ora são as coisas que vai encontrando perdidas e que pensava já se ter livrado de todas, ora são as músicas, são os cheiros que teimam em reavivar memórias. De que lhe adiantou apagar e-mail, número de telefone, foto, cortar toda e qualquer ligação nas redes sociais, se tudo o resto teima em permanecer? Ela sabe que irá conseguir ultrapassar, mas sabe que irá demorar, afinal ela criou uma concha onde se fechou, e só quando a abrir irá finalmente deixar entrar mais alguém no seu universo. A concha, já a protegeu, mas não poderá permanecer lá dentro, irá sufocar com a solidão, com a dor que teima em guardar para si, e que só sabe dividir com o mar, mas o mar não lhe dá resposta, não leva a dor para longe. Por mais que tente sorrir, parecer feliz, ela sabe que os seus olhos a desmentem sem o menor pudor. Ela sabe que os seus olhos reflectem tudo o que a sua alma sente, mesmo que tente esconder.
7 comentários:
identifico-me tanto com este texto...
o tempo... só o tempo pode ajudar...
bj*
Não podemos esperar que as coisas passem assim, a vida não se apaga, a vida só continua, com o tempo as coisas vão mudando, primeiro vão aparecendo pensamentos que vão substituindo aqueles, depois vão aparecendo coisas, pessoas, mais vida, e pouco a pouco, tudo vai ficando para trás... tempo amiga, o tempo cura tudo
Beijinho
Jorge
Sim, é certo que só o tempo pode ajudar, e ainda passou muito pouco tempo.
bj
Concordo com o Jorge, o Tempo faz coisas estranhas... mas as conchas também.
A parte mais brilhante e polida da concha é o interior, por isso talvez seja tão confortável... mas o exterior é mais insípido, mais rugoso.
Assim nos vêm os outros...
Bjs.
Já não sei se o interior da concha será melhor que o exterior, dói dos dois lados... mas como todas as feridas há-de sarar.
Um conselho de alguem que já passou pelo mesmo e quase sucumbiu na solidão... Deixa entrar alguém, mesmo que não o ames como ao anterior, só o sofrimento partilhado é que pode desaparecer e nunca compares pois isso só afastará quem poderá realmente gostar de ti no momento.
Ela vai precisar de muito tempo, muito tempo mesmo... e não se sabe se será capaz de voltar a confiar em alguém. Ela já não acredita que alguém possa gostar dela, mesmo porque ela não tem amigos, não sai, e a vida não lhe dá tréguas.
Enviar um comentário