A minha veia criativa deu de frosques. Não, não foi de férias, fosse isso e eu não me preocupava. Outras razões existem para que eu não consiga exprimir por texto tudo aquilo que sempre fiz, brincar com as palavras. O anonimato que antes tinha, era uma grande fonte de rendimento inspirativo, mas agora... já nada é como foi. Agora, há um travão em mim, há um travão no meu raciocínio, uma escolha criteriosa das palavras, porque a interpretação que delas for feita, pode ser usada contra mim, e certamente é. Valem-me as horas de sono, que nelas posso ser livre, voar por onde bem entender e usar as palavras a meu bel-prazer, tocando quem me fizer sorrir. Nas horas de sono, sou muitas outras coisas, sou mulher, e sou pássaro, ou sou gata e vagueio nos telhados em busca da lua cheia. Nas horas do sono, posso ir onde quiser em pouco tempo, e voltar e tornar a ir para outro lado apenas numa única noite. Nas horas de sono posso colher frutos das árvores, sem o dono saber e comê-los como um manjar divino, partilhá-los às escondidas e saboreá-los numa doce troca de olhares com um desconhecido de ar matreiro.
Já nada é igual, neste meu espaço, mas vou tentar não esmorecer, não deixar que a descoberta do meu eu, e a descoberta de um certo segredo que era este pedaço de mundo anónimo, me levem para longe do propósito que me trouxe até aqui, deixar por palavras tudo o que um simples neurónio solitário, congemina durante um dia, ou uma noite, depende do tempo.
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