Para que serve uma cimeira mundial do ambiente, para se discutirem medidas para a redução de libertação de dióxido de carbono na atmosfera, com vias à redução do aquecimento global, quando num deserto dos USA, se fazem testes com naves espaciais, para levar turistas a passear na lua?????
Eu devo ser burra, os srs todos poderosos do mundo, estão na cimeira todos cheios de boas intenções, afinal alguns deles até são os maiores exploradores de petróleo, e dependentes do mesmo, e depois desta cimeira, até vão fechar as petrolíferas para viverem ecológicamente, dependentes apenas das energias renováveis, com menos uns milhões avultados na conta. Pô, burrice minha, pensar que da cimeira não sairá fumo branco...
4 comentários:
Gosto da fotografia
A cimeira não serve para nada, como não serviram as anteriores...
Os Estados Unidos continua a ser o país com mais interesses nisto tudo...e não há Obama que acabe com os lobis.
Beijinho
Jorge
Todos os dias, o mesmo flagelo, a mesma rotina, o mesmo desespero.
O que comer?
A terra continuava seca. Seca e estéril como as pedras, sem erva, sem alimento, sem água.
A grande planície de El Fasher, no extremo ocidental do país, sempre fora o lar ancestral dos Fur, uma das quatro etnias de um dos países mais áridos de Africa, o Sudão. Os Shatt, os Tama e os Zaghawa, mais numerosos, há muito que se haviam espalhado pelos territórios vizinhos, instalando-se até em países vizinhos, como o Chade, a Líbia e até o Egipto.
Os Fur, mais ciosos dos seus costumes e tradições, mantinham-se na grande planicie, sobrevivendo às atrocidades de Darfur, tentando sobreviver nas pequenas aldeias, de paredes de barro e tectos de ramos secos.
Sobreviver.
Há quanto tempo não caía dos céus uma gota de água? Um ano? Talvez mais.
Mordebe conhecia bem as suas tarefas diárias. Aos sete anos, podia dar-se por muito feliz por estar vivo, não padecer de nenhuma doença grave e, principalmente, não ser orfão. Eram estas as prioridades para qualquer criança Fur, sabendo já de antemão que adoecer era o prenúncio da morte, sem médicos, nem hospitais nem farmácias num raio de muitas centenas de quilómetros.
O dia de Mordebe começava bem cedo, por volta das cinco da manhã, quando os primeiros raios de sol desciam sobre a aldeia. A mãe, Nyala, agitava as brasas e despejava sobre as malgas de barro uma mistura pastosa de sabor azedo, misturando sementes moídas e folhas verdes; a água era pouca e não podia ser desperdiçada.
A temperatura subia rapidamente para os 40, 41 ou 42º - mesmo assim, sempre um pouco menos que em Albara, mais ao norte, onde atingia frequentemente os 46 e 47º - um autêntico inferno, à sombra.
Depois da parca refeição, era tempo da recolha.
Mordebe, o irmão mais velho e o filho dos vizinhos, Fashin, dirigiam-se ao extremo sul da aldeia e, a partir daí, percorriam agachados os campos secos, de malga de barro na mão, à procura de sementes – sementes deixadas cair pelos pássaros, arrastadas pelo vento, desenterradas por acaso. Tudo servia, desde que fosse comestível.
De quando em quando, pequenos arbustos eriçados de espinhos brotavam de entre as rochas. As poucas árvores que ainda sobreviviam, erguiam-se como fantasmas nus de folhas, agitando os ramos vazios ao vento, à procura de uma brisa mais fresca.
Assim passariam toda a manhã, até o sol atingir o ponto mais alto. Depois, voltariam a casa, Nyala tentaria cozinhar algo com que pudessem enganar a fome por mais umas horas e logo voltariam ao campo, para procurar novamente mais alguns grãos.
No semana anterior, Fashin perdera o irmão mais novo, de doença.
Caminhavam em silêncio, atentos às pedras e raízes, em busca das sementes que poderiam significar a diferença entre a vida e a morte, abandonados aos seus próprios pensamentos, quebrados pelo inevitável fardo de lutar... para sobreviver.
O céu, habitualmente azul escuro e sem nuvens, ostentava um cinzento pesado de chumbo.
Mordebe sentou-se um pouco, interrompendo a busca incessante de sementes. Os joelhos doíam-lhe horrivelmente e as costas, vergadas à posição habitual, teimavam em não conseguir uma postura correcta.
Olhou para cima e na sua imaginação, as nuvens brancas formaram figuras fantasmagóricas, destacando-se sobre o fundo escuro do céu. Uma delas, em particular, assemelhava-se bastante a um rosto humano, sorridente e afectuoso.
Mordebe sorriu-lhe, e a nuvem pareceu devolver-lhe o sorriso.
Ao longe, um clarão de fogo sulcou os céus.
(continua... )
Mordebe fechou os olhos. Algo lhe caíra sobre a testa.
Abriu a boca.
Primeiro uma gota, depois outra... e ainda mais outra, gotas grossas de água refrescante, e em breve o céu se despejou sobre a terra árida, vertendo com violência toda a água armazenada durante a seca de tantos e tantos meses.
Mordebe permaneceu sentado, de boca aberta, sorvendo com sofreguidão os pingos grossos que lhe escorriam pela cara. Colocou as mãos em concha sobre a boca e ali ficou, a beber água, como se de repente o paraíso tivesse descido à terra sob a forma de pequenas gotas cristalinas.
O rosto humano, sorridente e afectuoso, que Mordebe vira nas nuvens, já se dissolvera noutras formas. Mas a chuva continuava a cair, sob a forma de um quase milagre, sobre a planície ressequida de El Fasher.
Mordebe permaneceu sentado, de boca aberta às gotas da chuva, durante muito tempo.
O futuro era incerto.
Não sabia quando voltaria a chover.
( Escrevi isto há muito tempo ... mas creio que encaixa bem nesse teu desabafo )
Tudo de bom para ti.
Rolando
Pois é Jorge, andamos nós a esforçar-nos, para depois quem mais devia esforçar-se fazer tábua rasa de todas as medidas tomadas e continuar a poluir, em nome do verde... do verde dólar... enquanto o petróleo for mais importante que o ar que se respira, nada mudará neste antigo planeta azul. Apesar de tudo eu continuo a fazer a minha parte, pelo menos nisso durmo descansada.
Rolando, obrigado pelo texto, continua actual, e parece-me que continuará por muito tempo, pois cada vez mais o planeta estará a ficar doente, e enquanto há degelo dos glaciares e água a mais em alguns lados, os países africanos sofrerão cada vez mais, secas maiores.
Beijinho
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